quarta-feira, 15 de agosto de 2012

ÍDOLOS DA MPB

Baby sempre foi do Brasil, mesmo quando assinava Consuelo. Apesar de ter trocado o nome artístico em meados dos anos 90, a vida inteira misturou toda sorte de ritmos em seu caldeirão, prevalecendo sempre o sabor tropical, bem brasileiro. Não é por acaso que ela é a nossa única cantora brasileira que fez sucesso cantando chorinho depois da fase áurea da rainha do gênero, Ademilde Fonseca e, também uma das raras a cantar samba de um jeito furioso e esfulizante como outra de suas referências, Elza Soares.
Uma garota de classe média carioca, nascida em Niterói, no seu 17º aniversário fugiu de casa para se tornar uma estrela. Evidentemente, não aquela estrela do céu que, à vezes, moçinha do nariz arrebitado identificaria como um disco-voador; mas uma das mais empolgantes e arrebatadoras cantoras que a nossa música popular brasileira já conheceu. Não foi de propósito: Bernadete Dinorah de Carvalho Cidade, filha única do jurista Luís Carlos Cidade e da jornalista Carmem Menna Barreto, sobrinha do matemático Humberto de Carvalho Cidade, criador da loteria de 13 pontos, saiu na calada da noite para o que desse e viesse, com destino a Salvador, Bahia. Era o show "Barra 69", de despedida de Caetano e Gil do Brasil. E, no palco, Pepeu tocando guitarra com Gil. Um guitarrista lindo de 17 anos, uma criança. Baby foi até a festa na casa de Caetano e Gil, depois do show. Puxou um beijo da boca de Pepeu, na saída. Morou, aproximadamente, debaixo da Ponte de Piatã.
Encontrou com Moraes Moreira, Luiz Galvão e Paulinho Boca de Cantor, que já faziam música juntos. Eles a convidaram para fazer um show, "O Desembarque dos Bichos Depois do Dilúvio Universal", no Teatro Vila Velha. Baby não cantou, foi atriz. Encontrou com Pepeu novamente, que era o guitarrista do show, e começaram um namoro. Pepeu teve que ir para o Rio de Janeiro, à pedido de Gal Costa. Baby acabou voltando também para o Rio, depois de um tempo. Moraes, Pepeu e Paulinho também migraram para o Rio. Baby, numa visita aos companheiros, começa a se integrar. Moraes, tocando violão, pergunta para Baby se ela canta. Quando ela começa a cantar, Moraes se supreende e a compara com Janis Joplin, que Baby nem conhecia. Recebe o convite para ser integrante da banda, já que eles estavam à procura de uma cantora. Eles fechariam contrato com uma gravadora na manhã seguinte, mas Baby não queria ser conhecida como Bernadete. Após voltar do banheiro, Moraes começa a cantar: "Baby Consuelo, sim. Por que não?", do filme "Meteorango Ki, Herói Intergalático", do diretor André Luis Oliveira. Baby abre a porta e grita: "Meu nome é Baby!" Baby era fã de Brigitte Bardot [na época, era a única mulher com bocão] e adorava o uso do "BB".
Resolveram morar todos juntos, pois todos tinham aquela característica nômade. No Rio, eles não tinham família. Alugaram um apartamento no Jardim Botânico - aquele em que Babu decidiu trocar de nome - e, quando foi encontrá-los, eles começaram a fazer músicas para ela. Depois de assinar o contrato com a gravadora, mudaram-se para São Paulo. Gravaram o primeiro compacto e depois o primeiro disco, "É Ferro na Boneca" (1970). Dez anos de convivência com o grupo, Os Novos Baianos se uniram na música e no futebol. Moraram no sítio Cantinho do Vovô [em Jacarepaguá, propriedade que hoje pertence a Moraes Moreira] neste período. Se sentiam num país só para eles caminhar, pois mal podiam sair de casa que já queriam prendê-los ou coisa assim. Isso tudo pelo movimento hippie que lideraram em plena ditadura militar. Baby foi a primeira mulher a subir e cantar em um trio elétrico. No final de 1970, os Novos Baianos se separaram e cada integrante seguiu carreira solo.
Baby casou-se com Pepeu Gomes aos 17 anos e foi mãe de um sexteto de filhos com nomes diferentes: Riroca [hoje mudou de nome para Sarah Sheeva, pois ninguém sabia pronunciar seu nome corretamente. O "r" tem som fraco!], Zabelê, Nãnashara, Pedro Baby, Krishna Baby e Kriptus Rá Baby. Ficou casada com Pepeu por dezoito anos e se separaram porque Baby foi procurar a espiritualidade e eles já eram praticamente irmãos.
Baby e Pepeu alcançaram o topo das paradas de sucesso. Participaram do Festival da Música em Montreux [1980, Suíça], onde cada um gravou seu primeiro ao vivo. Também participaram do Rock In Rio [1985, Rio de Janeiro], onde Baby estava grávida do seu filho caçula. Foi um choque para a população ver Baby cantando com a barriga de fora, já que isso, na época, era uma coisa fora do normal. Baby também aparece coberta de metais entortados por Thomaz Green Morton.
Nos anos 80, Baby e Pepeu foram barrados na Disneylândia por causa dos seus cabelos coloridos. Foi alegado que eles chamariam mais atenção do que os brinquedos do lugar. Cabelos coloridos também foi uma marca que eles deixaram de herança para o nosso Brasil, já que assumiam a liderança. Devido a isso, Baby escreveu, junto com Pepeu, o sucesso "Barrados na Disneylândia", onde conta toda a história acontecida com bastante sátira. Também nessa década, Baby se dedicou ao público infantil, participando da série "Sítio do Pica-Pau Amarelo", onde interpretou Emília e escreveu a música "Emília - a boneca gente" para o disco Pirlimpimpim, produzido por Guilherme Arantes.
Também Baby desenvolveu um trabalho com o grupo A Truma do Balão Mágico. Gravou três músicas com eles e partitipou de clipes e programas musicais. Baby levou o grupo ao sucesso. Em 1985, Baby também gravou uma música com seus filhos, "Rock das crianças".
Retornou aos palcos na década de 90, já casada com o produtor Nando Chagas. O casamento durou 8 anos. Baby finalmente assume o nome artístico Baby do Brasil. Grava um especial com os Novos Baianos ["Infinito Circular"], em 1997. Também lança um livro chamado "Peregrina ... Meu Caminho no Caminho", onde conta a sua passagem pelo caminho de Santiago de Compostela [Espanha].
Tornou-se evangélica da Igreja Interceluar Sara Nossa Terra, convertida no ano 2000. Hoje fundou o "Ministério do Espírito Santo de Deus em Nome de Jesus" e se denomina uma popstora. Baby se dedica hoje aos cultos e exclusivamente à Deus. Mesmo tendo se convertido para a religião evangélica, Baby não perdeu sua essência e sua alegria. Tanto que em suas aparições na TV continua mantendo seu gênero extravagante e colorido. Todos que acompanharam sua carreira ainda devem ter na lembrança aquela menina com cara de sapeca, sambando e cantando.

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