quarta-feira, 20 de junho de 2012

ÍDOLOS DA MPB

Ney de Souza Pereira nasceu em 1º de agosto de 1941 na pequena cidade de Bela Vista, no Mato Grosso do Sul, fronteira com o Paraguai. Desde cedo demonstrou vocação artística: cantava, pintava, interpretava.Ainda pequeno, escolheu o caminho do questionamento das reticências do mundo adulto, inconformando-se com seus preconceitos e incoerências.
Teve a infância e a adolescência marcadas pela solidão, em parte voluntária - gostava de passar horas seguidas no mato, acompanhado somente por seus cachorros - e por outra parte forçada, pelas constantes mudanças da família, decorrentes das transferências de seu pai militar.
Até completar 17 anos, sua família morou, além de Bela Vista, no Recife, em Salvador, no Rio de Janeiro e em Campo Grande. Quando deixou a casa da família para entrar na Aeronáutica, Ney ainda não fazia idéia do que faria de sua vida. Gostava de teatro e cantava esporadicamente, mas acabou indo trabalhar no laboratório de anatomia patológica do Hospital de Base de Brasília, a convite do primo. Tempos depois, passou a fazer recreação com crianças.
Nessa época, foi convidado para participar de um festival universitário e chegou a formar um quarteto vocal, sob protestos da professora de canto e apesar do regente do coral do qual fazia parte elogiar sua voz especial.
Depois do festival, fez de tudo um pouco, até atuou em um programa de televisão. Também concentrou suas atenções no teatro, decidido a ser ator. Atrás deste sonho, ele desembarcou no Rio de Janeiro em 1966, onde passou a viver da confecção e venda de peças de artesanato em couro. Ney adotou completamente a filosofia de vida hippie.
Neste período, viveu entre o Rio, São Paulo e Brasília, até conhecer João Ricardo, através da grande amiga Luli, que mais tarde tornou-se compositora de alguns de seus maiores sucessos. João procurava um cantor de voz aguda para um conjunto musical. e convidou Ney para ser o cantor do grupo. Ele mudou-se para São Paulo, de encontro a um ano de exaustivos ensaios, que entremeou com a participação em espetáculos teatrais e o artesanato. Começou a se revelar, então, Ney Matogrosso. O nome artístico, ele resgatou na própria família: seu pai tinha Matogrosso no sobrenome.
Secos e Molhados tornou-se um fenômeno da música popular brasileira. Em apenas um ano e meio, o grupo saltou dos shows na apertada Casa de Badalação e Tédio, em São Paulo, para a fama nacional dos espetáculos em grandes ginásios, superando a marca de 1 milhão de discos vendidos. Ney virou destaque na banda, que ao final de um ano já vivenciava uma série de problemas internos. Na semana em que saiu o segundo LP, o Secos e Molhados acabou.
 bom lembrar que o Secos e Molhados, apesar de cantar letras de cunho literário, era essencialmente um conjunto de rock. Sem abandonar este traço básico, Ney resgatou tesouros escondidos da chamada MPB tradicional, como "Bambo de Bambu", do repertório de Carmem Miranda - provavelmente a artista, em toda a história da música brasileira que, sob determinado ponto de vista, que mais se aproxima do que seria uma definição de Ney Matogrosso. Mas, ao contrário dela, e apesar de não faltarem oportunidades, Ney jamais se interessou em desenvolver uma carreira internacional.
Uma viagem promocional o levou o Secos e Molhados ao México. Moracy do Val, na época empresário do grupo, recebeu diversas propostas para levar o Secos e Molhados para os Estados Unidos e a Europa. Não por acaso, ele garante, pouco tempo depois surgiu um grupo de heavy metal com os rostos pintados em estilo semelhante com o lançado por Ney Matogrosso. Era o Kiss, sucesso mundial na década de 70...

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