segunda-feira, 24 de março de 2014

FOTO DO DIA

Zemaria

Surgida em 1999, na cidade de Vitória/ES, com a proposta de fazer música eletrônica mesclando sintetizadores, samplers e baterias eletrônicas aos tradicionais guitarra-baixo-bateria, a banda já havia lançado um primeiro CD, homônimo, em suporte “físico”, pela Lona Records, em 2002; este trabalho, dado os altos custos de prensagem e distribuição, só se tornou possível graças aos benefícios de uma lei de incentivo do município de Vitória, a Lei Rubem Braga, que bancou a primeira tiragem — vale lembrar que o disco foi gravado, produzido e mixado no estúdio da própria banda, o que diminuiu bastante os gastos financeiros da empreitada. Com esse disco, a banda conseguiu algumas resenhas e contatos para shows dentro e fora do estado, como o show no Skol Beats, em 2003. As músicas tiveram boa execução nas rádios locais, o mesmo ocorrendo com o clipe de “Tá tudo esquematizado”, veiculado no programa Amp, da MTV. Contudo, ainda que provocasse todo esse “barulho”, e mesmo com uma distribuição nacional pela Tratore, a vendagem do disco não chegou a quatro mil cópias.
Dois anos depois (e dois anos é praticamente uma eternidade no mundo da e-music, dadas as constantes transformações e renovações de suas vertentes), a sonoridade da banda havia mudado bastante e, nas apresentações ao vivo, pouco restava do repertório calcado no drum and bass que dava a tônica do álbum de estréia. Por essa época, o Zémaria havia fixado residência em São Paulo, mantendo uma noite fixa na Funhouse às terças, denominada Speedz (em que alternavam discotecagens, live p.a. e shows com a formação completa da banda).
A necessidade de trazer a público um material novo, que melhor representasse essa “nova cara” da banda, e a impossibilidade, naquele momento, de bancar a prensagem de um segundo álbum, foram motivos mais que suficientes para que a banda disponibilizasse, exclusivamente para download em seu site, um EP com sete faixas e um encarte que poderia ser impresso para acompanhar o CD-R no qual o ouvinte gravaria as faixas baixadas gratuitamente.
17:42 foi lançado em dezembro de 2004 e abriu as portas para uma série de oportunidades para a banda: além do Prêmio Claro, de algumas resenhas e participações em listas de melhores do ano nos veículos especializados, aumentaram os convites para shows, inclusive no exterior, o que possibilitou a realização de duas turnês internacionais. A primeira, no verão europeu de 2005, contou com 11 apresentações (ou gigs, como a banda prefere denominar) na França, Inglaterra e Portugal. Na segunda turnê, entre junho e setembro de 2006, além de repetir esses países, o Zémaria ainda se apresentou na Alemanha, ultrapassando as 30 gigs num período de três meses. Entre outros palcos, incluem-se aí o evento Copa das Culturas e o festival de música eletrônica Juicy Beats (ao lado de nomes consagrados como Coldcut, Jamie Lidell e Señor Coconut), ambos na Alemanha, além de casas noturnas como a badalada Le Tryptique, em Paris, na qual uma apresentação inicialmente prevista para durar quarenta minutos estendeu-se por uma hora além do previsto, tamanha a empolgação da platéia.
Já de volta a Vitória, no final de 2006, os integrantes do Zémaria sentiram a necessidade de novamente dar vazão à grande quantidade de faixas novas que já estavam gravadas e, segundo eles próprios dizem, “já se tornando velhas”. Empolgada com o resultado do EP anterior, e impulsionada pela experiência de outros nomes emergentes no cenário da música eletrônica brasileira, que trocaram as tradicionais lojas de mp3 (como o BeatPort) por net labels gratuitos (licenciados em Creative Commons), obtendo resultados muito maiores, a banda decide lançar, em seu site, um segundo EP “virtual”. Em 25 de dezembro de 2006, sai Aqui não tem silêncio, contendo novas versões para quatro composições liberadas para download ao longo do ano no MySpace da banda, além de três inéditas. Mesmo lançado na última semana do ano, o disco inclusive conseguiu fazer parte da lista de melhores do ano do site Poppycorn, ainda que sem divulgação alguma, apenas na base do “boca a boca virtual”.
Antes dos EPs, a banda já tinha flertado, timidamente, com o compartilhamento gratuito de arquivos: foi um dos primeiros nomes a aderir à proposta da Trama Virtual (e também um dos primeiros a receber o selo de “recomendado”, a célebre mãozinha com o polegar voltado para cima), além de ter colocado algumas faixas em sites como o Fiber On Line e oRraurl, voltados para o público de música eletrônica, largamente adepto da prática de troca irrestrita de arquivos pela rede. O primeiro disco também já estava disponível no site quando 17:42 foi lançado, mas só a partir do EP que essa prática passou a garantir ao Zémaria uma maior visibilidade.
Marcando presença em eventos e festivais musicais brasileiros desde 2004, quando lançou seu primeiro álbum, o quarteto capixaba Zémaria é considerado um dos curadores das bandas independentes do Espírito Santo, tendo contribuído na produção e desenvolvimento de álbuns de diversos artistas da região. Lançado em julho de 2009, o último álbum do grupo (The Space Ahead) é formado por nove faixas do mais fino electro-rock/synth-pop e foi distribuído gratuitamente no site do coletivo Smoke Island, responsável pela divulgação do trabalho de diversas bandas do Espírito Santo e comandado por Marcel Dadalto, multi-instrumentista e produtor do Zémaria. Também fazem parte do grupo Sanny Lys (vocais), Michel Spon (baixo) e NegoLéo (bateria).
O Zémaria já fez história nos palcos internacionais: Entre tantas apresentações, podem ser destacadas as realizadas nos clubes Whelans (Dublin), SO36 (Berlim), Guanabara (Londres), Zéro Zéro (Paris), Kitsuné Party (Dublin) e, claro, a do festival Electric Picnic (Irlanda), em que a banda dividiu o palco com nomes como Klaxons, The XX, Echo and the Bunnymen, MGMT e outras dezenas de artistas consagrados.
O single mais recente da banda é “Any Distance”, do novo álbum, que já ganhou um videoclipe. “Hit do Porto”, do mesmo disco, também teve um clipe lançado. Além de The Space Ahead, o Zémaria conta com outros dois álbuns de estúdio lançados (um homônimo de 2002 e 11 Trax, de 2007) e coleciona participações em importantes festivais brasileiros (como nos extintos Tim Festival e Skol Beats), além de já ter obtido honrosas menções no Prêmio Claro (Melhor Álbum de Música Eletrônica com 15:43 EP) e na premiação Vitória Cine Vídeo (Melhor Videoclipe com “Vermelha”).
Se depender dos capixabas do Zémaria, silêncio é a última coisa à qual o nome da banda estará associado. Afinal, estamos falando de um pessoal que costuma fazer bastante “barulho”: e não estou aqui me referindo à sua sonoridade, recheada de sintetizadores, samplers e seqüenciadores, mas sim à capacidade da banda de sempre aparecer com alguma “novidade” no cenário da música eletrônica brasileira.
 
COMPONENTES:
Marcel Dadalto (guitarra, teclado e programações)
Michel Spon (baixo e teclado)
Nêgo Léo (bateria e programações)
Sanny Lys (vocal)
 

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