quinta-feira, 19 de março de 2015

MINI BIOGRAFIAS

Iggy Pop é realmente um dos maiores performers da história do rock, o porta-voz do caos, o frontman que melhor representa um som anárquico, sujo.
Surgidos em 1967 em Detroit (EUA) o coração da indústria automobilística da América do Norte, o asfixiante ruído das fábricas se tornaria uma característica fundamental da sonoridade dos Stooges, juntando isso à adrenalina do r&b dos primeiros discos dos Stones, ao jungle de Bo Diddley, ao rock garage e suas mutações psicodélicas, ao chamanismo dos Doors, ao drone vanguardista do Velvet Underground, ao free jazz de John Coltrane e Albert Ayler e às rimas minimalistas tão-estúpidas-que-chegam-a-ser-brilhantes dos primeiros rocks ("Tutti Frutti", de Little Richard, e"Be-Bop-a-Lula", de Gene Vincent) reformulados por Iggy e herdados pelos Ramones.
Assim como o Velvet Underground, só que menos cerebrais, os Stooges mostraram a ressaca e a alienação da juventude das grandes cidades, prenunciando o niilismo do punk, o dark e a inclinação sadomasoquista do gótico e o tédio do grunge. Mas eles ainda têm um groove, que não é necessariamente de Detroit, e uma distorção que vai além da simplicidade do heavy metal e envolve um som dissonante que reflete a opressão. É ruído, sim, mas a banda elevou o noise à categoria de arte, uma lição que o Sonic Youth aprendeu e soube muito bem capitalizar.
James Newell Osterberg nasceu em 21 de abril de 1947 e foi criado em um acampamento de trailers na pequena localidade de Ypsilanti, perto de Ann Arbor (Michigan). Antes de se tornar Iggy Pop, foi baterista de duas bandas de blues psicodélico, a The Iguanas - de onde tirou seu pseudônimo - e a The Prime Movers, até decidir mudar para Chicago para tocar com os bluesmen. Quando voltou a Michigan, formou uma banda de rock com os irmãos Ron (guitarrista) e Scott Asheton (baterista) e o baixista Dave Alexander. Estava criada a The Psychedelic Stooges, nome que depois seria reduzido a The Stooges.
De todos os roqueiros que você já ouviu ou leu sobre, nenhum deles será tão cru, nu e simplório, e, ao mesmo tempo, tão visceral e avassalador como este que se chama Iggy Pop. Como um iguana que vive no deserto, este homem é capaz de viver e realizar o seu melhor sem muita produção ou ornamentação. Dê-lhe apenas alimentação. Sim, muito volume e com o trovão trazido pelo baixo e bumbo, este aparentemente frágil e esquelético cidadão cresce e se torna um monstro, rugindo e rosnando feito criaturas de seus antigos pesadelos infantis.
A história de Iggy Pop é a estória do garoto obediente que aprende cedo a não confiar na conversa dos outros e passa a quebrar todas as regras até encontrar um equilibrio, tangenciando seguidamente com a morte, mas conseguindo efetivamente sobreviver durante o seu processo de auto-descoberta. Depois de praticamente destruir sua carreira, seu prestígio e nome, sem falar na saúde, este cantor conseguiu durante a era punk, uma rara oportunidade chamada segunda chance e soube aproveitá-la.                 
Mas, se foi as portas da década de oitenta que Iggy conseguiu se erguer financeiramente, certamente será como o imprevisível e alucinando cantor dos Stooges, aquele com folego e controle emocional comparável apenas ao diábo da Tazmania, que irão sempre se lembrar dele. Iggy Pop e sua banda The Stooges são de fato e de direito o maior exemplo de atitude anárquica geralmente associada ao movimento punk. Não é por um acaso que os Stooges são citados como referencia por tantas bandas punks a surgir, a começar pelos New York Dolls e os Ramones.                 
Um dos raros sobreviventes do excessos dos anos 60 e 70, é também um dos poucos da "antiga escola" que não perdeu a coerência, o tesão de tocar e a paixão pela música. Mas não se engane: apesar de seu lado selvagem ser o mais famoso e mais comentado, Iggy foi, e ainda é, um homem que soube sair de suas próprias armadilhas e caminhar sempre para a frente. Ou como cantou o próprio em uma de suas letras "eu quero novos desafios, querer sempre crescer e crescer". Um homem com gana e raça, que se recusa a se derrotar, que canta e nos mostra seguidamente o que significa ter um tesão pela vida.
Apesar de uma carreira de mais de 30 anos de estrada, chamá-lo de "dinossauro" soa uma heresia. A cada disco, projeto, Iggy sempre mostrou coragem, carisma e uma sinceridade rara. Suas histórias com os Stooges ou internações psiquiátricas apenas reforçam o mito que construiu.
Por ironia do destino, Iggy é tido como uma mera descoberta de David Bowie (esse pensamento existe e muito!). Saiba que Ziggy Stardust, a criação de Bowie, não existiria sem Iggy Pop. E nem Sex Pistols, Siouxie and the Banshees, Joy Division, New Order, Jesus & the Mary Chain, Nick Cave, Smiths, e por aí vai. Iggy fez (e continua a fazer) músicas de inegávél mérito e qualidade. Ele é um pensador simples, com uma sonoridade básica, e embora de forma bem diferente, acaba se tornando tão influente para o rock quanto um Lou Reed ou Jimi Hendrix.

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