Há pelo menos duas características marcantes no trabalho de Nelson Cavaquinho. Primeiro, a voz rouca e negroide, perfeita para entoar suas letras repletas de pessimismo e desilusão. Depois, a maneira original com que tocava seu violão. Tocar, aliás, é um termo incorreto. Ele “beliscava” suas cordas com o dedo indicador e o polegar, o que produzia uma sonoridade única. Foi dessa maneira que Cavaquinho criou clássicos da música brasileira como Quando Eu Me Chamar Saudade, Juízo Final, A Flor e o Espinho (ainda que o verso “tire seu sorriso do caminho/ que eu quero passar com a minha dor” é de autoria de Guilherme de Brito), Juízo Final, Palhaço e muitos outros.
Nelson Antônio da Silva nasceu no dia 29 de outubro de 1911. Sua família era humilde – seu pai tocou na banda da polícia militar e sua mãe era lavadeira. Quando tinha 18 anos, foi trabalhar na ronda noturna da polícia. O emprego o aproximou da malandragem: numa de suas rondas, conheceu o morro da Mangueira e passou a frequentar as rodas de samba ao lado de Cartola, Carlos Cachaça e outros compositores da escola de samba. Quando finalmente saiu da polícia, Cavaquinho passou a vender sambas para sobreviver. O reconhecimento, no entanto, só foi obtido na década de 1960. Foi descoberto pelos bossanovistas (Nara Leão, por exemplo, gravou Luz Negra) e por intérpretes como Elizeth Cardoso, Cyro Monteiro, Elis Regina e Beth Carvalho. Seu primeiro disco, Depoimento do Poeta, foi lançado em 1970.
Para lembrar o centenário de Nelson Cavaquinho, foi pedido a cada convidado do VEJA Música para que cantasse uma música do compositor. Tulipa Ruiz interpretou Pode Sorrir e Dani Black cantou Quando Eu Me Chamar Saudade. E Luciana Alves e o Trio Corrente, cujos programas devem ser exibidos nos próximos meses, fizeram Palhaço e Juízo Final.
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