quarta-feira, 21 de novembro de 2012

ÍDOLOS DA MBP

João Batista Nogueira Júnior mal sabia fazer três acordes no violão, mas seu pai, “mestre” (assim chamado por Pixinguinha) no instrumento, deve ter passado pelo sangue a musicalidade ilimitada.
Desde as primeiras composições, apresentadas nos clubes e nas ruas do Meier, o bairro da zona norte carioca onde nasceu e cresceu, João impressionava pelas melodias rebuscadas, feitas na cabeça e mostradas com o auxílio de uma caixa de fósforos ou apenas das mãos. Impressionada ficou Elizeth Cardoso, que gravou em 1969 “Corrente de aço”, o primeiro sucesso do então jovem de 28 anos, funcionário da Caixa Econômica Federal, ex-contínuo e ex-vitrinista.

Quando João encontrou o radialista e produtor Adelzon Alves e começou a mostrar que também era um grande cantor, a voz grave a conduzir versos peculiares na alegria ou na tristeza, consolidou-se a imagem de um artista único: excepcional como melodista, letrista e intérprete. O primeiro LP, “Grito no subúrbio” (1972), já esbanjava essas características, mas popularidade e reconhecimento vieram mesmo a partir do segundo, “E lá vou eu” (1974), o disco do sucesso “Batendo a porta”, da louvação à Portela “Sonho de bamba”, do início da parceria com Paulo César Pinheiro, uma das mais importantes da história da música brasileira.

Nos trabalhos seguintes, João enfileirou clássicos instantâneos (“Nó na madeira”, “Mineira”, “Espelho”, “As forças da natureza”, “Súplica”, “Poder da criação” e tantos outros) e marcou posição como militante em defesa dos artistas e ritmos nacionais, sobretudo do samba. A criação do Clube do Samba, em 1979, fez de João o epicentro de um movimento de questionamento da hegemonia da música pop e do descompromisso das grandes gravadoras com os cantores, autores e instrumentistas do país. Essa postura o fez perder contratos, muito dinheiro e a possibilidade de permanecer como um nome de sucesso, mas a admiração dos colegas e dos amantes da boa música ele nunca perdeu.

Ainda em 2000, ao lado da Velha Guarda, gravou o CD “Ala dos Compositores da Portela” e sua última participação em disco foi em “Esquina carioca”, cantando ao lado de Beth Carvalho, Nelson Sargento e Walter Alfaiate, entre outros. Ao morrer em função de um enfarte, aos 58 anos, João deixou, além dos quatro filhos, uma discografia de 20 itens (entre lançamentos solo e coletivos) que é uma das mais ricas do nosso samba, tradutora do que há de melhor na cultura brasileira. A obra de João Nogueira contabiliza 18 discos e mais de 300 composições, mais 200 gravadas por João e inúmeros intérpretes, como Elis Regina, Clara Nunes, Emílio Santiago, Beth Carvalho e Alcione, entre tantos outros.

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