Desde as primeiras composições, apresentadas nos clubes e nas
ruas do Meier, o bairro da zona norte carioca onde nasceu e cresceu, João
impressionava pelas melodias rebuscadas, feitas na cabeça e mostradas com o
auxílio de uma caixa de fósforos ou apenas das mãos. Impressionada ficou Elizeth
Cardoso, que gravou em 1969 “Corrente de aço”, o primeiro sucesso do então jovem
de 28 anos, funcionário da Caixa Econômica Federal, ex-contínuo e
ex-vitrinista.
Quando João encontrou o radialista e produtor Adelzon Alves e
começou a mostrar que também era um grande cantor, a voz grave a conduzir versos
peculiares na alegria ou na tristeza, consolidou-se a imagem de um artista
único: excepcional como melodista, letrista e intérprete. O primeiro LP, “Grito
no subúrbio” (1972), já esbanjava essas características, mas popularidade e
reconhecimento vieram mesmo a partir do segundo, “E lá vou eu” (1974), o disco
do sucesso “Batendo a porta”, da louvação à Portela “Sonho de bamba”, do início
da parceria com Paulo César Pinheiro, uma das mais importantes da história da
música brasileira.
Nos trabalhos seguintes, João enfileirou clássicos
instantâneos (“Nó na madeira”, “Mineira”, “Espelho”, “As forças da natureza”,
“Súplica”,
“Poder da criação” e tantos outros) e marcou posição como militante em defesa
dos artistas e ritmos nacionais, sobretudo do samba. A criação do Clube do
Samba, em 1979, fez de João o epicentro de um movimento de questionamento da
hegemonia da música pop e do descompromisso das grandes gravadoras com os
cantores, autores e instrumentistas do país. Essa postura o fez perder
contratos, muito dinheiro e a possibilidade de permanecer como um nome de
sucesso, mas a admiração dos colegas e dos amantes da boa música ele nunca
perdeu.
Ainda em 2000, ao lado da Velha Guarda, gravou o CD “Ala dos
Compositores da Portela” e sua última participação em disco foi em “Esquina
carioca”, cantando ao lado de Beth Carvalho, Nelson Sargento e Walter Alfaiate,
entre outros. Ao morrer em função de um enfarte, aos 58 anos, João deixou, além
dos quatro filhos, uma discografia de 20 itens (entre lançamentos solo e
coletivos) que é uma das mais ricas do nosso samba, tradutora do que há de
melhor na cultura brasileira. A obra de João Nogueira contabiliza 18 discos e
mais de 300 composições, mais 200 gravadas por João e inúmeros intérpretes, como
Elis Regina, Clara Nunes, Emílio Santiago, Beth Carvalho e Alcione, entre tantos
outros.
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