sexta-feira, 24 de julho de 2009

CENA CAPIXABA EM DESTAQUE NO RRAUL

No sudeste, a forte cena indie do Espírito Santo
Indie, electro e rock são impulsionados no estado por colaborativismo entre artistas e patrocínios independentes.


Dia sete de julho, Vitória, Espírito Santo. Há poucas quadras da Praia do Canto começava no The One Club a festa que daria o ponta-pé inicial no projeto Omelete Marginal 2009, produzido pela IU e pela Inova, com apoio da Prefeitura da cidade



Com a iniciativa, cerca de trinta artistas capixabas tiveram suas apresentações transmitidas ao vivo pela internet e levaram seus projetos aos principais centros culturais do Brasil: Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba - alguns, inclusive, faziam o trajeto pela primeira vez.

Um desses novatos era André Paste, de 17 anos, talento recém-revelado dos mash-ups e orgulho de João Brasil, que ficou fascinado com a ideia de viajar o país em um ônibus cheio de artistas - "o mais legal é conhecer a galera da internet e ter contato diário com as bandas. Aprendi muita coisa com essa rapaziada", conta André, que diz não se sentir prejudicado pela pouca idade: "O difícil é conciliar a escola com a música". A turnê rendeu ao garoto uma parceria com o DJ Diego Locatelli e, juntos, os caras montaram um mix de 'Robot Rock', do Daft Punk', com 'Boom Boom Pow', do Black Eyed Peas.


OS NOVATOS

Atualmente, o Projeto Omelete Marginal é o único responsável pela difusão de artistas no Espírito Santo, já que a Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes) parece ignorar a existência do Estado. Por isso, talentos como o supracitado André Paste tentam aproveitar ao máximo a experiência: "É muito bom conhecer outros Estados, outros públicos", ressalta ele. Mas o Girl Talk mirim não foi o único novo talento de Vitória que teve a oportunidade de conhecer as cidades mais movimentadas do Brasil.


Um desses debutantes é Gustavo Macaco (foto), que, mesmo com um grande histórico de projetos coletivos, se viu num mundo novo ao estrear sua carreira solo há pouco mais de um ano, no Omelete Marginal de 2008. Mas não foi o "solo" que deixou Gustavo completamente desamparado: seu recém-lançado disco Macaco, Chiquinho e Cavalo, um registro exemplar de folk-rock, existem dezenas de participações de conterrâneos, como fj de Juliano Gauche (membro do Solana que produziu o disco), Fê Paschoal (outro integrante das Noites Omelete Marginal), Marcel Dadalto (do grupo de electro Zémaria) e até de Fred Entringer, diretor artístico do Omelete Marginal.

Essa troca de figurinhas entre artistas de diversos gêneros é algo raro de assistir em centros como São Paulo, onde fica clara a existência de uma grande cratera entre bandas de ritmos diferentes - "nosso Estado tem uma característica multicultural muito forte", confirma Gustavo, que também se gaba da estrutura posta a disposição das bandas pelos organizadores do festival: "o Omelete prima pela produção, pela criação e recriação artística e principalmente pela oxigenação da cena autoral. Fomos com a estrutura completa e com artistas de diversos estilos. A cena autoral está se reestruturando e ficando forte novamente."


O Joe.Zee, apesar de ser formado por dois homens, não passa de um menino da música eletrônica - não no sentido pejorativo, não entenda mal. O electro de Alex Cepile e Perez Lisboa, por enquanto, só pode ser encontrado em forma de demo, mas a dupla já pretende lançar material novo - só não sabe como: "Em breve lançaremos um EP ou um disco full. Só é difícil escolher porque a música anda bem banalizada e poucas pessoas hoje em dia tem paciência para ouvir um disco inteiro. A menos que ele seja muito bom", justifica Cepile, demonstrando um pouco de receio quanto à aceitação de sua música. Nascido em Vitória, ele acredita que só agora o público capixaba está se identificando com a cena formada na cidade: "Vitória tem uma cena indie em ascensão, com várias festas, mas ainda carece de mais núcleos e casas destinadas a esse público". Falando do rei Roberto Carlos, nascido no interior do Estado, o músico ainda lembra que muitos artistas consagrados se refugiavam em Vitória em busca de inspiração.

Humberto Ribeiro, criador do projeto eletrônico Controle Technique, também consegue um bom espaço no Espírito Santo, mesmo com pouco tempo de formação. Depois de passar 15 anos no exterior, Humberto se lançou no Brasil com um projeto revigorado, sincando vídeo e áudio em suas apresentações. Assim como Gustavo Macaco, o Controle conta com o apoio de conterrâneos em suas músicas e dá dicas de novos projetos que estão por vir: "Não posso deixar de falar do Trepax, do Vox Castoridae e do F.U.E.L.", lista Humberto. Esse último acaba de lançar seu primeiro EP pelo coletivo Smoke Island, que lança e distribui gratuitamente o material de artistas de electro da região.

"Vitória é uma caixinha de surpresas". As palavras são dos próprios organizadores do Omelete Marginal, que não falam isso só pelo glamour da frase. Embora o electrorock seja o gênero predominante no Espírito Santo, não significa que deve ser o único a ser notado.


O Solana, por exemplo, é um dos veteranos da música indie no Estado e, ao mesmo tempo, um dos maiores destaques, mesmo sem esbarrar no ritmo eletrônico. Nascendo junto com uma manifestação mais ativa dos artistas independentes em Vitória, os membros do Solana acompanharam todo esse desenvolvimento bem de perto - ou melhor, de dentro: "O potencial (das bandas) era muito forte, mas vivíamos um longo período sem grandes movimentos coletivos. O que o Fred (Entringer, idealizador do projeto) fez foi mostrar pra nós mesmos a força que havia aqui", conta o baterista Bento Abreu, que complementa - "onde todos viam crise, ele leu, em letras garrafais, a OPORTUNIDADE". As vantagens de se fazer uma turnê com um grande grupo de músicos também fica clara para o Solana: "Uma ação como as Noites Omelete Marginal faz muito mais barulho e traz frutos muito mais duradouros do que uma simples turnê solitária. Juntos podemos mais!".


O SUCESSO NO EXTERIOR

Se o indie brasileiro anda sendo um valioso material de exportação (tirando Bonde do Rolê e CSS como exemplo), os artistas do Espírito Santo não ficaram de fora. Estreando em 2002, o Zémaria se tornou um dos maiores grupos de electro do Brasil e, levando muito do tempero do rock para suas apresentações, ganhou um público fiel em seu Estado. Logo, a banda fazia parte do line-up das maiores festas do país e transferiu seu QG para a capital paulista. Hoje, quem diria, os Zés (e a Maria, representada pelos vocais de Sanny Lys) faz sua quinta passagem pela Europa, incluindo Inglaterra, França, Noruega, Irlanda e Alemanha na turnê do Space Ahead, lançado em formato físico nesse mês no velho continente.


Em 2008, o grupo tocou no L'Espirito Poitoi, festival francês que também recebeu Mahnimal, Tamy, Chokolate, Jura Fernadez & Machiavel, Aline Yasmine e Cia Taruíras Mutantes, todos capixabas - "nunca tantos artistas do Espírito Santo embarcaram ao mesmo tempo para a Europa", reportou a IU na época.
Os novatos do Mickey Gang, nascidos e criados em Colatina, interior do Espírito Santo, também têm sido apresentados ao sucesso europeu. Colegas de palco do Zémaria em algumas ocasiões, a banda formada por cinco garotos teve seu EP de estreia produzido justamente por Marcel Dadalto, um dos Zés. Em maio, a gangue do Mickey Mouse fez seu primeiro show no exterior, em Londres, e parece ter agradado o público de lá. A ligação dos rapazes com a Inglaterra ficou tão forte que, hoje, tanto o booking quanto o management dos caras é feito por estrangeiros. Até a NME já estampou em suas páginas algumas palavras sobre 'I Was Born In The 90's". Chique demais.
O Espírito Santo é um exemplo de que o indie brasileiro pode decolar e criar laços entre si, independente de região, gênero e idade. Para isso, só precisamos de determinação das bandas, apoio de quem quer e pode investir e, claro, um bom público - e essa última parte não é difícil de encontrar.
* Retirado do site www.smokeisland.com

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