quarta-feira, 13 de março de 2013

ÍDOLOS DA MPB

Filho de Anna Illichi, de origem iugoslava e católica, e de Paul Mautner, judeu austríaco, Jorge Mautner nasceu pouco tempo depois de seus pais desembarcarem no Brasil: "Eu nasci aqui um mês depois de meus pais chegarem ao Brasil, fugindo do holocausto".
No Brasil, seu pai, embora simpatizante do governo de Getúlio Vargas, atuava na resistência judaica. A mãe passou a sofrer de paralisia em razão do trauma sofrido pela impossibilidade da irmã de Jorge, Susana, ter embarcado para o Brasil com a família. Assim, até os sete anos, Jorge ficou sob os cuidados de uma babá, Lúcia, que era ialorixá e o apresentou ao candomblé.
Em 1948, seus pais se separam. Anna se casa com o violinista Henri Müller, que é a primeira viola da Orquestra Sinfônica de São Paulo. Anna e Jorge se transferem para São Paulo. Henri ensina Jorge a tocar violino. Jorge estuda no Colégio Dante Alighieri. Apesar de ótimo aluno, é expulso do colégio antes de concluir o 3º ano científico, por ter escrito um texto considerado indecente.
Mautner começa a escrever seu primeiro livro, Deus da chuva e da morte, aos 15 anos de idade. O livro foi publicado em 1962 e compõe, com Kaos (1964) e Narciso em tarde cinza (1966), a trilogia hoje conhecida como Mitologia do Kaos.[1]
Em 1962, adere ao Partido Comunista Brasileiro, convidado pelo professor Mário Schenberg para participar, com José Roberto Aguilar, de uma célula cultural no Comitê Central.
Após o golpe militar de 1964, é preso. É liberado, sob a condição de se expressar mais "cuidadosamente". Em 1966, vai para os Estados Unidos, onde trabalha na Unesco e trabalha na tradução de livros brasileiros. Também dava palestras sobre esses livros para a Sociedade Interamericana de Literatura. A partir de 1967, passa a trabalhar como secretário do poeta Robert Lowell. Conhece Paul Goodman, sociólogo, poeta e militante pacifista anarquista da nova esquerda, de quem recebe significativa influência.
Em 1970, vai para Londres, onde se aproxima de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Volta ao Brasil e começa a escrever no jornal O Pasquim. Nesta época, conhece Nelson Jacobina, que será seu parceiro musical nas décadas seguintes.
Em 10 de dezembro de 1973, no período mais duro da ditadura militar, participa do Banquete dos Mendigos, show-manifesto idealizado e dirigido por Jards Macalé, em comemoração dos 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Do espetáculo participam também Chico Buarque, Dominguinhos, Edu Lobo, Gal Costa, Gonzaguinha, Johnny Alf, Luis Melodia, Milton Nascimento, MPB-4, Nelson Jacobina, Paulinho da Viola, Raul Seixas, entre outros artistas. Com apoio da ONU, o show acontece no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, transformado em "território livre", e resulta em álbum duplo gravado ao vivo. O disco foi proibido durante seis anos pelo regime militar e liberado somente em 1979.
Em 1975, nasce sua filha Amora (com a historiadora Ruth Mendes).
Em 1987 lança, com Gilberto Gil, o movimento "Figa Brasil" no show O Poeta e o Esfomeado, ligado ao movimento Kaos, voltado à discussão da cultura brasileira.
Autor de vários livros, entre eles Deus da chuva e da morte (1962), que recebeu o Prêmio Jabuti de literatura, e Fragmentos de sabonete (1973).
Em 1968, escreveu o argumento e o roteiro do filme de Neville D'Almeida, Jardim de Guerra, que acabou censurado pela ditadura militar.
Em 1970, dirigiu o longa-metragem O demiurgo (1970), em que trabalhou como ator. Do filme, também participam Gil, Caetano, José Roberto Aguilar, Péricles Cavalcanti, Leilah Assumpção. O filme é censurado.
Entre seus sucessos musicais gravados por grandes nomes da MPB, incluem-se O vampiro (Caetano Veloso), Maracatu atômico (Gilberto Gil e Chico Science & Nação Zumbi), Lágrimas negras (Gal Costa), Samba dos animas (Lulu Santos) Rock Comendo Cereja, O vampiro e Samba Jambo com (Jonge).
Em 2002 lançou o CD "Eu Não Peço Desculpas", em parceria com Caetano Veloso.
Seu mais recente livro, Mitologia do Kaos, lançado em 2002 pela Azougue, recebeu montagem para teatro realizada pelo diretor baiano Fábio Viana. O espetáculo, de criação coletiva, reúne música, dança e teatro e foi intitulado Filhos do Kaos. É parte de um trabalho de pesquisa cênica, artística e estética que vem sendo realizado há muito tempo pelo diretor para o projeto denominado Trilogia do Kaos. Mautner, que esteve em Salvador para assistir à estréia, declarou que "Filhos do Kaos é a própria tragédia grega viva, e todos nós sabemos (e viva Rei Lopes!) que a Grécia Antiga é aqui no Brasil!".


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