Baden Powell é considerado um dos
maiores violonistas de todos os tempos e um dos compositores mais expressivos da
nossa música. Criador de um estilo próprio, foi o violonista mais influente de
sua geração, tornando-se uma referência entre os violões havidos e a haver. Sua
música rompe as barreiras que separam a música erudita da música popular,
trazendo consigo as raízes afro-brasileiras e o regional brasileiro.
Baden nasceu no dia 06 de Agosto de 1937
em uma cidadezinha no norte do estado Fluminense chamada "Varre-e-Sai". Ele
nunca soube me dizer porquê a cidade tem esse nome, mas sempre falou dela com
muito amor. Dizia que seu pai o havia ensinado a ter saudades de "Varre-e-Sai".
Meu avô se chamava Lilo de Aquino, mas tinha o apelido de "Tic", era sapateiro
de profissão e chef de escoteiro. Meu pai ganhou o nome de Baden Powell em
homenagem ao fundador do escotismo: o General britânico Robert Thompsom S. S.
Baden Powell.
A
música faz parte da história da nossa família há algumas gerações, meu bisavô,
Vicente Thomaz de Aquino, foi um fazendeiro negro que fundou talvez uma das
primeiras e únicas bandas de escravos que tocavam e cantavam suas raízes. Sempre
ouví muitas histórias de meus ascendentes mas infelizmente não conheci meus
avós. A família decidiu se mudar para o Rio de Janeiro e com apenas três meses
Baden tornou-se carioca do bairro de São Cristóvão. Crecseu ouvindo música;
contava as histórias de seu pai, violinista amador, que fazia reuniões musicais
em casa com os amigos Pixinguinha, Donga, João da Baiana, Jaime Florence (o
"Meira"), entre outros bambas da música dessa época. Contava também que
costumava acompanhar os saraus batucando no armário do quarto.
Com
oito anos Baden se apaixonou por um violão que sua tia ganhara numa rifa. Ela
não tocava nada e por isso o deixou pendurado na parede da sala. Baden ficava
"namorando" o instrumento, mas era muito tímido pra pedir emprestado. Um dia não
resistiu e pegou escondido o violão, enrolou-o em uma toalha e guardou debaixo
da cama. Ficava descobrindo o som do instrumento e se encantando cada vez mais
por ele, dizendo para si mesmo: "Eu vou tocar você!". Até que a mãe dele,
limpando o quarto, achou o instrumento escondido e reagiu muito mal, exigindo
que Baden o devolvesse a sua tia, coisa que ele se recusou. Quando "Seu Tic"
chegou do trabalho, soube da história e entendeu que havia algum interesse se
manifestando, ele decidiu iniciar o Baden nas primeiras posições de acordes do
instrumento. Em poucas aulas Baden já havia esgotado o pouco conhecimento
violonístico do pai e foi ecaminhado aos cuidados do Meira, grande mestre
violonista que foi também professor de Rafael Rabello e Maurício
Carrilho.
No início da década de 60, Baden tocava na boate Arpège, em Copacabana, e recebeu a visita do poetinha Vinicius de Moraes, que foi assistí-lo. A parceria Tom & Vinicius já fazia barulho e Baden ficou muito entusiasmado com o convite do poeta para que fizessem umas "musiquinhas" juntos. "O Vinicius chegou me mostrando uma letra que ele disse ter feito pra toccata 147 de Bach, Jesus Alegria dos Homens, e cantarolou: - Entre as prendas com que a natureza… Aí eu pensei que ele era maluco, hahaha!". Marcaram uns três "bolos" (encontros aos quais, um dos dois sempre faltava) e depois se trancaram no apartamento do Vinicius durante quase três meses; violão, máquina de escrever e o melhor amigo do homem, segundo Vinicius, o cão engarrafado: Whiskie. O Vinicius, que ainda era diplomata, pediu uma licensa ao Itamarathy e ligou para os pais do Baden avisando que ele ia ficar em sua casa uns dias. Imagina, o Baden mal havia entrado na casa dos vinte e tomava guaraná! Durante esse período nacseram diversas composições, a primeira paerceria chama-se "Canção de ninar meu bem" e da mesma safra outras viraram clássicos da Bossa Nova e da MPB, como "Samba em Prelúdio", "Só por amor", "Bom dia amigo" e "O Astronauta". Entre essas parcerias se destaca uma suíte cuja a linha temática é a história dos Orixás (santos na religião do Candomblé), batizada de "Os Afros-Sambas", que talvez seja a obra mais característica da dupla. Em um depoimento Vinicius disse: "[…] o disco os 'Afros-Sambas' de Baden e Vinicius' realizou um novo sincretismo, deu uma dimensão mais universal ao candomblé afro-brasileiro".
Ainda durante a década de 60, Baden faz sua primeira visita à terra onde mais tarde se consagraria: a França. Na verdade, por motivos de força maior, Baden deixou de ir para os Estados Unidos, seu pai havia ficado muito doente e ele resolveu ficar no Brasil. Pouco tempo depois o “seu Tic” faleceu, deixando a lembrança de um Velho amigo, à quem Baden dedicou uma canção homônima, com letra do Vinicius.
Baden Powell trilhou um caminho de sucesso, respeitado e reverenciado por sua musicalidade e genialidade como instrumentista. Ganhou reconhecimento mundial, deixando seus acordes gravados no coração de vários fãs pelo mundo. Gravou mais de 70 discos e recebeu diversos prêmios pelo conjunto de sua obra, deixando um imenso legado a todos os músicos e amantes da música. Sua influência é marcante e está presente nas novas gerações de músicos, contribuindo para a evolução da música brasileira.
Baden aprendeu muito rápido, estudou
violão clássico pela Escola de Tárrega e participava ainda iniciante das rodas
de choro organizadas pelo professor: "O Meira colocava a gente sentado em volta
da mesa e eu tinha que tocar tudo de ouvido, sem direito a erro, senão o pessoal
brigava!", relembrava Baden.
A prática e convivência com os melhores
músicos da época lhe valeram boa parte da sua sabedoria musical. Baden era um
prodígio gênial e seu talento se desenvolveu muito rápido. No ano em que
completou nove anos participou do programa de calouros "Papel Carbono",
apresentado por Renato Murce na Rádio Nacional, e conquistou o primeiro lugar
como calouro/solista de violão, interpretando o choro "Magoado" de Dilermando
Reis. Concluiu o curso de violão em quatro anos, aos treze tinha no repertório
uma transcrição própria do Muoto Perpetuo de Paganini. Um dia seus pais foram
chamados por Meira, que lhes disse não ter mais nada a ensinar ao jovem
virtuose. A partir daí, começou a atuar profissionalmente recebendo seus
primeiros cachês em bailes e festas no suburbio e na boemia Lapa. O primeiro
conjunto que formou foi um trio composto por Milton Banana na bateria e Ed
Lincoln ao contrabaixo.
Terminado o ginásio no Instituto Cyleno,
em São Januário, Baden começou a trabalhar como músico de orquestra na Rádio
Nacional, e fez excursões pelo Brasil organizadas por Renato Murce onde os
convidados principais eram artistas de cinema da época como Adelaide Chiozzo,
Carlos Mattos, Eliana e Cyl Farney. Durante a década de 1950 integrou o Trio do
pianista Ed Lincoln, atuando na Boite Plaza em Copacabana: ponto de encontro dos
amantes da boa música, entre os quais figurava um certo jovem Antonio Carlos
Jobim, admirador do violonista e também atuante na noite carioca. Sua fama de
exelente músico se espalhou rápido e em pouco tempo ele já era um dos músicos
mais requisitados entre cantoras, como Alaíde Costa e Elizeth Cardoso, e
estúdios de gravação. Nessa mesma época Baden começou a compor com seus
primeiros parceiros: Nilo Queiroz, Aloysio de Oliveira, Geraldo Vandré e Ruy
Guerra. Nessa primeira leva nasceram "Deve ser amor", "Não é bem assim", "Rosa
flor", "Conversa de poeta", "Vou por aí", "Canção à minha amada", mas seu
primeiro grande sucesso veio em 1956: "Samba Triste" em parceria com Billy
Blanco. No final da década de 50 ele gravou seu primeiro disco, "Apresentando
Baden Powell e seu Violão", lançado pela gravadora Philips, que hoje é
Universal.
No início da década de 60, Baden tocava na boate Arpège, em Copacabana, e recebeu a visita do poetinha Vinicius de Moraes, que foi assistí-lo. A parceria Tom & Vinicius já fazia barulho e Baden ficou muito entusiasmado com o convite do poeta para que fizessem umas "musiquinhas" juntos. "O Vinicius chegou me mostrando uma letra que ele disse ter feito pra toccata 147 de Bach, Jesus Alegria dos Homens, e cantarolou: - Entre as prendas com que a natureza… Aí eu pensei que ele era maluco, hahaha!". Marcaram uns três "bolos" (encontros aos quais, um dos dois sempre faltava) e depois se trancaram no apartamento do Vinicius durante quase três meses; violão, máquina de escrever e o melhor amigo do homem, segundo Vinicius, o cão engarrafado: Whiskie. O Vinicius, que ainda era diplomata, pediu uma licensa ao Itamarathy e ligou para os pais do Baden avisando que ele ia ficar em sua casa uns dias. Imagina, o Baden mal havia entrado na casa dos vinte e tomava guaraná! Durante esse período nacseram diversas composições, a primeira paerceria chama-se "Canção de ninar meu bem" e da mesma safra outras viraram clássicos da Bossa Nova e da MPB, como "Samba em Prelúdio", "Só por amor", "Bom dia amigo" e "O Astronauta". Entre essas parcerias se destaca uma suíte cuja a linha temática é a história dos Orixás (santos na religião do Candomblé), batizada de "Os Afros-Sambas", que talvez seja a obra mais característica da dupla. Em um depoimento Vinicius disse: "[…] o disco os 'Afros-Sambas' de Baden e Vinicius' realizou um novo sincretismo, deu uma dimensão mais universal ao candomblé afro-brasileiro".
E assim o movimento "Bossa Nova" ganhou
uma nova vertente. O sucesso da dupla foi muito grande, Baden e Vinicius eram
figurinhas fáceis no programa "O Fino da Bossa" apresentado por Elis Regina, que
fez com que muitas dessas parcerias se tornassem sucessos. Conta a lenda que a
letra do "Canto de Ossanha" foi escrita para Elis minutos antes de um programa
ir ao ar, e ela cantou lendo o manuscrito do poeta como se já soubesse a música.
A divina Elizeth Cardoso, amiga de Vinicius, também foi uma voz que imortalizou
várias canções e sambas de Baden. Também Ciro Monteiro dedicou um disco à
parceria chamado de "Baden e Vinicius".
Paulo César Pinheiro também foi um
parceiro musical da maior relevância na obra de Baden. Juntos compuseram uma
obra influenciada pelo samba e pelo choro, com letras inspiradas na liguagem
popular e erudita. Paulo César Pinheiro é um letrista cuja poesia traduz
fielmente as melodias de Baden. A obra desta parceria é uma evolução harmônica,
melódica e poética do samba. O primeiro samba composto pela dupla foi "Lapinha",
vencedor da I Bienal do Samba no ano de 1968, defendido por Elis Regina, que
também imortalizou "Cai dentro", "Aviso aos navegantes", "Samba do perdão" e
"Vou deitar e rolar".
Ainda durante a década de 60, Baden faz sua primeira visita à terra onde mais tarde se consagraria: a França. Na verdade, por motivos de força maior, Baden deixou de ir para os Estados Unidos, seu pai havia ficado muito doente e ele resolveu ficar no Brasil. Pouco tempo depois o “seu Tic” faleceu, deixando a lembrança de um Velho amigo, à quem Baden dedicou uma canção homônima, com letra do Vinicius.
Convencido por um amigo,
não duvido muito que tenha sido o próprio Vinicius, de que a Europa tinha muito
mais a oferecer do que os EUA, o Baden trocou sua passagem Rio-NY por uma
Rio-Paris e embarcou para a cidade luz. Ele permaneceu na França por vinte anos
e depois mais 5 na Alemanha, acho que ele realmente gostou de lá. O fato é que
Baden se apaixonou por Paris e pelo povo francês, que o acolheu tão
calorosamente. Chegando em Paris foi logo encaminhado ao Quartier Latin, bairro
boêmio, onde se concentrava toda a juventude parisiense - reduto dos artistas e
da efervecência cultural. Baden começou a tocar em pequenos restaurantes e bares
e logo chamava atenção pela sua singularidade sonora. Ele sempre me disse para
estar preparado musicalmente para qualquer situação, e me contava que entre duas
músicas interpretava uma de suas releituras dos clássicos brasileiros como Manhã
de Carnaval, captando a atenção de quem estava assistindo.
Ao final de três meses,
prazo de isenção de visto concedido pela França a todo visitante, o compositor,
ator e cineasta francês Pierre Barouh, que escreveu uma linda versão do "Samba
da Benção" - "Samba Saravah" -, conseguiu que o Baden fizesse uma apresentação
na primeira parte do show do cantor Jacques Brel. Foi a grande oportunidade de
Baden: uma apresentação para um público entendido e apreciador de música. Bem
como ele me aconselhou, estava mais do que pronto, e no final de seu concerto
foi chamado mais 8 vezes de volta ao palco! Estavam na platéia agentes e
empresários, diretores de gravadoras e jornalistas, todos impressionados e
surpresos por uma música original e cheia de energia, que misturava samba com
batuque, música clássica com improvisação, e lindas melodias dos já sucessos da
Bossa Nova. Aquele foi o início de sua carreira internacional, a partir dali
foram uma sucessão de propostas que resultaram em vários discos, tournées pelo
mundo e parcerias inesquecíveis com diversos artistas com Stéphane Grappelli,
Michel Legrand, Liza Minelli e Claude Nougaro, entre outros.
Baden Powell trilhou um caminho de sucesso, respeitado e reverenciado por sua musicalidade e genialidade como instrumentista. Ganhou reconhecimento mundial, deixando seus acordes gravados no coração de vários fãs pelo mundo. Gravou mais de 70 discos e recebeu diversos prêmios pelo conjunto de sua obra, deixando um imenso legado a todos os músicos e amantes da música. Sua influência é marcante e está presente nas novas gerações de músicos, contribuindo para a evolução da música brasileira.