segunda-feira, 14 de setembro de 2009

ALEXANDRE MIGNONI - SERÁ QUE VOU SABER ENVELHECER?

Fui ao cinema outro dia, ali no Shopping Jardins. Fui ver Retrato de Uma Ausência, um documentário sobre Kurt Cobain, vocalista e líder do Nirvana, morto há 15 anos. Ainda no lounge, rapidamente percebi que seria o mais velho na sala de cinema. Reparei também alguns olhares curiosos na minha direção. Do tipo: o que é que esse coroa ta fazendo aqui? Cadê o netinho dele? Esse cara é cana! Ignorei a censura e assisti ao documentário. Excelente, por sinal.

Os tipos presentes ostentavam o óbvio figurino: camisas de flanela surradas e cheirando a nafta - dessas que não se usam mais nem em festa junina - calça jeans rasgada, tênis velho. Alguns usavam a clássica camiseta preta com a capa do Nervermind, outros a também consagrada estampa do rosto de Kurt com os olhos amargurados. Notei um outro detalhe, o que me levou a ter uma certeza. Aquele era o era o Dia Nacional de Luta Contra o Prestobarba.

O fato de não haver nenhum exemplar do sexo feminino no cinema me tranqüilizou um pouco. A atitude cerceadora dos órfãos de Seattle não me abalou. Mas confesso que se tivesse percebido uma olharzinho de reprovação de alguma mocinha, isso me levaria a uma profunda reflexão (típica expressão de um ex-bolchevique). Porque num tem coisa pior do que sentir longe de sua tribo. Meio assim fora de eixo, sem lugar, deslocado. Igual pingüim no deserto ou gordo de abada tamanho M. Já viu isso? A rapaziada toda sarada na micareta exibindo a musculatura. Cada braço do tamanho de uma mortadela Sadia. As mocinhas com suas vestimentas customizadas. E o gordinho lá, com as banha pra fora, todo massungado (sim, eu invento palavras), meio bêbado, meio sem graça. Mas, tudo bem. O importante é ser da galera, fazer parte da tribo. No final estarão todos agindo como um cãozinho labrador: mãozinha pra cima... tcha-tcha-tcha, perninha pro lado... pum-pum-pum.

Mas o que me aflige exatamente é: será que vou saber envelhecer? Não que eu esteja próximo, nem fiz meio século ainda, mas já ando preocupado de não saber a hora de mudar de figurino, mudar de atitude, ficar mais sério, essas coisas. Outro dia minhas filhas me proibiram de ir ao shopping de Havaianas. Será que já devo usar aquelas sandálias da Itapuã? Umas de couro com umas tiras assim bem sérias. Será que chegou o momento de dar de presente a camisa que comprei no show do Pearl Jam em Sampa? . Isso me preocupa. Quando eu parar de ouvir Amy Winehouse, quem vou escutar no lugar dela? Simone? Qual será o momento de encurtar as bermudas? Porque isso eu já sei. Novo velho usa bermuda curta.

O meu medo maior é me tornar um desses tipos... o sonho não acabou. Manja careca de rabinho? Putz. Não é péssimo? Quando eu tinha locadora, nas internas, a gente chamava um cliente de RH. Ele tinha uns 60 anos e usava uns óculos redondinhos ala Lennon, cabelão comprido, rabinho e camisetas do pink floyd. A gente achava que ele era um remanescente hippie. O último.

Peço aos amigos que me ajudem. Que me dêem uns toques aqui e ali. Mas aviso. Não quero ser Peter Townshed, mas prefiro que um piano caia sobre o meu dedão do pé esquerdo, do que ter que trocar um dia o poker on line pela paciência. All In! . Woo hoo!


* Enviado e escrito por Alexandre Mignoni

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